IASERJ

Segundo relato dos moradores, a administração da unidade de saúde passou do Estado para a Prefeitura, o que transformará o atendimento aberto a toda a população, diferentemente do que acontecia quando o mesmo era restrito a funcionários públicos do Estado. Buscamos entender o processo de restauração a que a instituição está sendo submetida e procuramos saber dos residentes como é morar na região, onde até pouco tempo (cerca de 2 meses), só se via mendigos, drogas, relações sexuais e assaltos.
>> Depoimentos
Fizemos algumas perguntas aos moradores. Nossa primeira entrevistada foi a senhora Azenete, aposentada, de 86 anos. Moradora do bairro a mais de 10 anos, ela afirmou que o IASERJ sempre teve essas condições.
-“Moro aqui há 10 anos. Ta sempre assim. Atendia, mas eu nunca usei.”- afirmou.
Perguntamos a aposentada se no tempo de vivência na região, ela pôde presenciar algum furto ou consumo de drogas à noite. Respondendo que sim, dona Azenete aproveitou para pedir a poda da árvore que fica localizada nos fundos da unidade, em um beco.
-“ Sim. Agora só tem uma coisa, se vocês puderem botar aí( na edição da matéria), aquela árvore ali bem ao lado da porta, a poucos dias roubaram um carro. Eu não sei de quem era, veio um homem, chegou, abriu o carro, entrou e levou. E é perigoso assim da gente passar ali porque a árvore esconde.”- disse apreensiva.
Aproveitamos e perguntamos a moradora se ela tem medo de passar pelo tal beco, ou se todavia, ela o evita.
-“ De noite eu não passo ali não. Agora nem de dia eu passo por ali, por causa da calçada, eu sozinha não passo porque ta esburacada e eu fico com medo de cair. Dou a volta se tiver de ir para a Domingos Lopes.”- recordou.
Dona Azenete não conteve a felicidade em ver a nova pintura que está sendo realizada no local.
A moradora afirmou que não é a favor da demolição da unidade de saúde, uma vez que havia uma faixa pouco antes da nossa reportagem tratando exatamente desta situação.
-“ Não sou a favor. Porque pode ser que a partir de agora eu tenha direito
( de ter atendimento). E eu não sou a favor porque tem os funcionários, as pessoas que precisam dali, que pertencem ali, né.”
-“ De noite era uma gritaria, uma zuada de quem vinha do outro lado, que Deus me livre. A gente acordava assustada. Agora não, nem escuto barulho. As vezes gritavam “socorro” e ficavam alguns homens falando. Não sei se era na Portela( o baile), só sei que vinha pra cá.”- encerrou.
>> Moradora denuncia: “Já presenciei garotos usando drogas.”
A nossa segunda entrevistada foi a morada Ana Paula, que vive há 41 anos em Madureira e afirma que a mais de 10 o IASERJ está no estado de degradação. Quanto a sua presença em fatos decorridos na redondeza, ela nos contou sobre a utilização de drogas, o que de certa forma nos surpreendeu.
-“ Já presenciei assalto, drogas, tudo ali atrás. Os mendigos são muitos. Há pouco tempo os garotos ficavam por ali. Mas acabaram com a marquise, aí eles saíram. Normalmente tinha um que colocava fogo nos colchões que ficavam ali”- conta.
Como o entorno do IASERJ é um beco, procuramos saber da moradora se ela tem ou não costume de transitar por ali para chegar até sua casa.
-“ Eu passo porque eu conheço o guardador de carro. Agora tarde da noite não, com certeza não. Ao anoitecer umas 18hrs eu ainda ando.”- afirmou.
Perguntada sobre a ciência da rotina dos funcionários, Ana Paula, não soube nos responder com exatidão, mas destacou um ponto importante. Se eles trabalham, ela nunca os viu.
-“ Não sei. Primeiro porque nem fica aberto esse lado. Enquanto estava aberto eu só via umas 2 pessoas. Lá na frente então, eu nunca vi ninguém.”
Por qual motivo a unidade de saúde vem decaindo nos últimos anos, a ponto de nem sequer prestar atendimentos, foi a pergunta que fizemos, a moradora afirma que o IASERJ acabou.
-“ Eu acho que o IASERJ acabou né. Tinha um lá no Maracanã que também acabou, não sei o porque. Eu sei que vem um posto de saúde para cá, me informaram, mas até os funcionários não queria que viesse.”
- Porque?
-“ Por causa de trabalhar, né. Eles querem ganhar muito, mas ninguém quer trabalhar.”- falou.
-“ Sou contra. Porque é melhor ter um posto de saúde. Agora ter um hospital IASERJ que não funcionava e demolir é melhor ou reaproveitar o local ou então demolir e criar qualquer outra coisa porque não tinha funcionamento, é só realmente para ter gente usando droga, ter mendigo, ter roubo.”- desabafou.
Novamente, perguntamos a nossa entrevistada se ela sabia informar se a unidade é utilizada apenas por funcionário público ou é aberto o atendimento para toda a população.
-“ O IASERJ é para funcionários da Prefeitura( na verdade é do Estado e passará a Prefeitura). A não ser época de vacinação que é aberto para todo mundo, mas quase também não funciona. A gente tem que sair daqui e ir lá pra uma escola no Valqueire, próximo a Henrique de Mello.”- encerrou.
>> Dona Regiane: “É uma velharia tomando o lugar de quem precisa trabalhar”
A nossa última moradora entrevistada, a senhora Regiane, foi a que mais nos detalhou sobre o cotidiano da unidade. Moradora do bairro a mais de 40 anos, ela contou sobre os poucos funcionários, a péssima estrutura, a prostituição, o consumo de drogas, entre outros.
Quanto tempo o IASERJ está nesta situação?
-“ Há muito tempo, e é uma pena né. Graças a Deus que agora resolveram fazer alguma coisa que a gente realmente precisa. E a última vez que eu tive na pediatria com meus netos no posto, a pediatra até me deu uma notícia boa. Falou que futuramente a pediatria vem pra cá( o antigo IASERJ). E vai ser ótimo aqui pra gente. Foi a melhor coisa que eles fizeram, isso aqui tava abandonado. Um monte de gente fumando droga. Garoto novo aí se prostituindo e por aí vai.”-declarou.
-“ Eu não passo por aqui à noite e nem aconselho ninguém a passar. Porque aí você vê um monte de garoto, garota de 12,13 anos se roçando aqui. E os mendigos até que acabou. Antes tinha uma mendigaria da nada, não era fácil não, fora a sujeira.”-comentou.
Quanto a rotina dos funcionários, a moradora de 40 anos do bairro, demonstrou a revolta com aquilo que ela chamou de velharia que perto de se aposentar não concede uma chance de trabalho a quem verdadeiramente o quer.
-“ Olha do IASERJ eu vi era um monte de velharia, tudo a ponto de se aposentar e tudo sem fazer nada aí, só tomando o lugar de quem realmente precisa trabalhar, podendo dar oportunidade pros mais jovens.”
No final da entrevista, dona Regiane apoiou a reforma e espera que ocorra uma melhora no atendimento para toda a população.
-“ Está melhorando. Ta dando uma outra visão. To achando ótimo, porque só assim acaba essa vagabundagem que tem aqui, muito bom e vai dar mais movimento a isso aqui.”- encerrou.
>> Segurança do IASERJ: “Isso aí só quem sabe é a Secretaria de Saúde”

-Quanto tempo o senhor trabalha aqui?
-“ 2 anos e 4 meses”- disse
- São boas as condições de trabalho?
-“ São”- respondeu brevemente
- O que o senhor acha que pode melhorar?
- Pô companheiro..
-Médico, falta médico?
- “Não, não falta médico. Aqui não é mais IASERJ, aqui agora vai ser o município( Prefeitura), só que ta fechado.”- comentou.
- Mas e quando era do Estado?
-“ Funcionava cara só que era para funcionário público.”
- E porque tinha uma faixa contra a demolição do IASERJ?
-“ Porque eles( o Governo) queriam entregar como entregaram pro Município.”
- O senhor acha que vai melhorar as condições de atendimento e a estrutura?
-“ Eu não posso te afirmar nada, entendeu. Isso aí só quem sabe é a Secretaria de Saúde.”- encerrou.
>> Respostas

Quanto a administração do IASERJ, que segundo os moradores e funcionários, está de possa da Prefeitura, falamos com a ouvidoria responsável, que informou que o IASERJ é um órgão administrado pelo Estado e que por esse motivo não há gerência do município.
Com relação as calçadas esburacadas em torno da unidade de saúde, mandamos um email para a Coordenadoria Geral de Conservação e estamos aguardando uma resposta do órgão.
Matéria: Bruno Guilherme Tortorella
Equipe de Reportagem: Letícia Monteiro e Pedro Henrique
Edição Fotográfica: Pedro Henrique
Edição Final: Bruno Guilherme e Pedro Henrique
Edição Final: Bruno Guilherme e Pedro Henrique